Estudantes que participaram da ocupação podem ser punidos

Por José Casagrande 

Conflitos entre estudantes e vigias da Ufes produziram quebra-quebra, correrias e atos de violência

Pisando em ovos. Os conselheiros que quisessem entrar no prédio da reitoria teriam que enfrentar a barreira dos estudantes

Pisando em ovos. Os conselheiros que quisessem entrar no prédio da reitoria teriam que passar pela barreira dos estudantes

A assessoria de imprensa da Reitoria informou que, caso a Polícia Federal decida abrir inquérito a respeito da ocupação estudantil, os responsáveis por depredação do patrimônio da universidade poderão ser punidos. A informação foi dada enquanto o reitor Rubens Rasseli estava em reunião com agentes da PF.

Rasseli acionou a Polícia Federal e chegou a entrar em contato com o governador Paulo Hartung para pedir o envio de uma equipe da polícia militar. Segundo dados da própria assessoria da Reitoria, a PF aconselhou o reitor a acionar a polícia do Estado, que estaria mais apta a agir no caso de tumulto e manifestações exacerbadas. Dois policiais chegaram a entrar no edifício ocupado. Eles procuraram o diálogo e não usaram de atitudes violentas para conter os manifestantes. As críticas ficaram mesmo para a vigilância universitária que foi pressionada muitas vezes pelos estudantes e chegou a reagir. O resultado foi alguns momentos de muita tensão, muitos empurrões e alguns estudantes que afirmaram ter sido agredidos com socos e ponta-pés pelos agentes da Vigilância Federal.

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“Fiquei assustado. Achei que fosse desmaiar.” Igor Bellúcio, Estudante de F�sica agredido por servidor da Ufes.

“Fiquei assustado. Achei que fosse desmaiar.” Igor Bellúcio, Estudante de Física agredido por servidor da Ufes.

O caso mais grave foi do estudante do Curso de Física da Ufes, Igor Bellúcio Santos. Ele afirma que teve sua camisa rasgada, foi jogado no chão e agredido por um servidor. O servidor teria reagido ao ser impedido de entrar na Reitoria pelo cordão de isolamento na porta dos fundos do prédio. “Fiquei assustado. Achei que ia desmaiar. Ele tentou me enforcar e bateu com a minha cabeça algumas vezes contra o chão”, disse Bellúcio, enquanto exibia as marcas da agressão.

Os estudantes que chegaram no estacionamento do prédio da Reitoria às 8 horas da manhã já encontraram um forte esquema de segurança, armado para conter a entrada de qualquer pessoa não autorizada no edifício. Os vigilantes ficaram parados na entrada do edifício, enquanto os estudantes atiravam ovos e tinta no chão. Em alguns momentos o clima ficou mais tenso. Alguns membros da segurança tiravam fotos dos manifestantes, mas nenhum deles quis se manifestar a respeito do objetivo da ação.

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Estudantes ocupam reitoria e impedem votação do Reuni

Reuni divide opiniões na Ufes

Estudantes ocupam reitoria e impedem votação do Reuni

Por José Casagrande

Às 15h30, desta quarta-feira (25), os estudantes forçaram a entrada central e ocuparam o prédio da Reitoria da Ufes. A ação durou cerca de duas horas e teve como objetivo impedir a reunião do Conselho Universitário, marcada para às 14 horas de hoje. A reunião do Conselho discutiria e levaria a votação a adesão da Universidade ao Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (Reuni). Com seu cancelamento, o Conselho terá menos de 48 horas para convocar nova sessão extraordinária e votar, em regime de urgência, o projeto de expansão.

o que aconteceu

A mobilização estudantil teve início por volta das 10 horas da manhã, quando representantes do DCE chegaram ao estacionamento do edifício da Reitoria. Munidos de muita tinta e ovos, eles fizeram um cordão de isolamento nas duas entradas do edifício e tentaram impedir o acesso de servidores e membros do conselho. Houve tumulto e muita confusão. Alguns estudantes afirmam ter sido agredidos por servidores e agentes da Vigilância Federal. Quando informados de que a reunião já estava ocorrendo e que o projeto de adesão ao Reuni seria apresentado pela Reitoria, os manifestantes passaram pela segurança e invadiram o prédio. Um grupo de mais de cem pessoas chegou à sala de reuniões e paralisou o trabalho do Conselho.

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O reitor Rubens Rasseli tentou acalmar os ânimos dos manifestantes, mas acabou saindo escoltado por assessores e membros do conselho. Rasseli se reuniu em uma sala fechada com membros do corpo administrativo, enquanto os estudantes se manifestavam nos corredores do prédio.

A votação a respeito da adesão da Ufes ao Reuni não estava oficialmente na pauta da Reunião de hoje do Conselho. A diretora do DCE e integrante do Conselho Universitário, Daniele Martins considerou que a apresentação do projeto chegou a ser anunciada no encontro e ele seria votado, caso os estudantes não tivessem impedido a sessão. Para ela, a não inserção do Reuni na pauta da reunião seria uma estratégia da Reitoria para desmobilizar o movimento. O diretor de Organização do DCE, Arthur de Souza Moreira, declarou que a ação de hoje foi uma vitória do movimento estudantil. Ele disse ainda que o DCE pretende formar comitês para discutir diariamente o tema e trabalhar para que o Reuni não seja aprovado pela Ufes.

E agora?

O Reitor não recebeu a imprensa, mas informou, por meio de sua assessoria, que a sessão do conselho havia sido cancelada. Uma convocação extraordinária do Conselho é esperada para a segunda-feira (29), prazo limite para a adesão imediata ao programa.

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Reuni divide opiniões na Ufes

Cotas sociais reacendem sonhos e diferenças

            Por Ludmila Pecine e Mônica Oliveira

No último dia 10 de agosto, o sistema de cotas sociais foi implantado na Ufes e passa a valer para o Vestibular 2008. Com isso, estudantes de escola pública terão reserva de 40% das vagas. O novo sistema fez do campus em Goaibeiras palco de manifestações envolvendo estudantes e professores de escolas públicas e privadas.

Por um lado, instituições privadas  Continue lendo

O panorama político por trás do Reuni

Por José Casagrande

A Reitoria não se posicionará quanto à adesão ao Reuni até a realização da Audiência Pública, na próxima sexta-feira (19). No entanto, as entidades representativas dos professores e alunos da Ufes já realizaram assembléias e definiram sua posição contrária ao programa. A iniciativa do movimento estudantil de barrar as itens da chamada “Reforma Universitária” passa pela questão política de “evitar medidas consideradas neo-liberais, capitaneadas pelo atual governo federal”.

A diretora de Movimentos Sociais do DCE, Daniele Martins, aponta como item essencialmente preocupante no projeto do Reuni uma possível supervalorização do ensino, em detrimento das outras atividades básicas do universo acadêmico: a pesquisa e a extensão. As instituições contrárias ao programa argumentam que essa dissociação mostra o comprometimento em formar exclusivamente profissionais aptos a atuar no mercado de trabalho. Para o DCE e Adufes, isso limita a função da universidade como produtora de conhecimento.

O Reuni e o conceito de professor-equivalente

Para a Adufes e o DCE, a dissociação do tripé-ensino-pesquisa e extensão estaria relacionada com a instituição do “banco de professores-equivalente”. Esse conceito estabelece um peso diferenciado para cada docente, de acordo com sua condição de trabalho. Assim, fixa-se uma relação de equivalência em que a cadeira de um professor de dedicação exclusiva (DE) pode ser substituída por cerca de três professores com carga horária de 20 horas. “A universidade pressionada a expandir o seu número vagas tende a contratar um número maior de professores sem dedicação exclusiva”, afirma o presidente da Adufes. Para ele, isso prejudicaria as atividades de pesquisa e extensão, uma vez que professores 20 horas, por exemplo, não teriam, não teriam carga horária suficiente para se dedicar a atividades fora de sala de aula.

Para o pró-reitor Alberto Ferreira, a atual gestão não tem interesse em dissociar o ensino da pesquisa e extensão. Ferreira enxerga na regra do professor equivalente uma maior autonomia da universidade na substituição de professores e maior agilidade no processo, que não precisaria necessariamente da aprovação do MEC.

Audiência pública sobre o Reuni ocorre na próxima sexta

Por José Casagrande

É com o desafio de chegar a um denominador comum que alunos, professores, servidores e o corpo administrativo da Ufes se reunirão para a audiência pública do dia 19 de outubro, de 9 às 12 horas, no auditório do Centro de Artes (Campus de Goiabeiras).

como foi o debate

O debate do último dia 4, ocorrido no Ginásio Universitário do Campus de Goiabeiras, foi alvo de muitas críticas quanto a sua organização. Da localização remota à apresentação do pró-reitor de planejamento, considerada exageradamente numérica pelos estudantes presentes. O que se viu foi uma grande quantidade de menções negativas vindas dos microfones abertos ao público. Há de se destacar o vazio das arquibancadas. Na ocasião, representantes do DCE fizeram uma série de reivindicações para a realização da audiência. Entre elas, ônibus para transportar estudantes de São Mateus e Alegre. A Reitoria não se comprometeu com o transporte dos estudantes de fora da capital, mas o Diretório negocia passagens para representantes dos Centros Acadêmicos das duas cidades junto à Reitoria. Houve até pedidos para que fosse decretado ponto facultativo na sexta-feira. Sem resposta, os estudantes tentarão o apoio da Adufes para a liberação das turmas no horário da audiência.

De acordo com o Presidente da Adufes, Josemar de Oliveira, a universidade terá pouco tempo para discutir um assunto de tamanha relevância. As lideranças acadêmicas que se posicionam contrárias ao Reuni, apesar de salientarem sua oposição ao atual projeto, acreditam que seria benéfico promover uma maior discussão sobre o tema. Para o pró-reitor de planejamento, Professor Alberto Ferreira, a Ufes poderia adiar em alguns meses sua adesão ao programa. No entanto, a entrega do projeto de adesão depois do prazo estipulado pelo Governo Federal (29 de outubro) certamente comprometeria os recursos a serem liberados já para o próximo ano. Cabe ressaltar que, embora alguns centros já tenham preparado projetos de adesão ao Reuni, a audiência pública não tem caráter deliberativo. Após a consulta popular, o projeto deverá passar pelos conselhos universitários para ser aprovada de forma definitiva. Somente os conselhos tem autonomia para criar novos cursos e ampliar vagas dentro da universidade.