Forasteiros na Ufes

Estrangeiros que estudam na universidade falam sobre a vivência em terras brasileiras

Helen Lemos, João Paulo Pereira e Mariana Rodrigues

(helenlemos2@hotmail.com, pereirajp2005@hotmail.com, ufesmariana@yahoo.com.br )

Como se sente uma pessoa em um país que lhe é estranho? Como conviver com indivíduos que nunca viu e se alimentar com um novo tipo de comida? Foi essa curiosidade que levou o Universo Ufes a entrevistar Aline de Oliveira, Doris Henríquez, Helder Samora, Ivan Carvalho e Vanina Pereira. Aline cursa comunicação social na Ufes e o restante dos jovens, arquitetura e urbanismo. Com exceção de Doris, que é hondurenha, eles são provenientes de Cabo Verde, arquipélago situado a oeste da costa africana.

Os alunos optaram por estudar no Brasil por diferentes motivos. Ivan disse que veio para cá devido às afinidades culturais entre o Brasil e Cabo Verde e também porque é um sonho que tem desde criança. Vanina concordou com Ivan no que se refere às semelhanças culturais: “Cabo Verde faz parte dos países que falam português e isso facilita bastante a nossa adaptação”.

Na África, além de Cabo Verde, Angola, Guiné-Bissau, Moçambique e São Tomé e Príncipe utilizam o português como idioma oficial. O português é a oitava língua mais falada do planeta. Conheça os países que falam o português no mundo. 
 
Para Doris, o fato de falar espanhol dificultou a sua adaptação ao país. “Durante o primeiro ano em que morei no Brasil tive que fazer um curso de português para melhor me adaptar à nova realidade. Minha vida vivia em torno de quatro pessoas que eu conhecia, que falavam espanhol e que comiam a mesma comida que eu”,  disse.

Os alunos afirmaram que, logo na chegada ao país, enfrentaram uma série de dificuldades burocráticas para regularizar a situação na Polícia Federal. Foi difícil também conseguir um lugar para morar. Conforme disseram, a sensação era de desamparo. “É muito complicado chegar a um país onde não se conhece ninguém. Nós nos sentíamos muito sós e não sabíamos como agir”, desabafou Dóris.

O preconceito é apontado como um outro obstáculo (Assista ao vídeo da entrevista), uma atitude que, segundo Vanina, é característica da maioria dos brasileiros. Doris entende que em Honduras há preconceito, mas ele é bem mais marcado no Brasil. Em seu entender, não é uma questão relacionada somente à cor da pele, mas também à origem estrangeira. “Na hora de uma seleção para estágio, quando a pessoa diz que é estrangeira, ela acaba sendo colocada no final da lista. Já perdi emprego para calouro, o que é ilógico porque a minha experiência é muito maior do que a dele”, contou.

Os africanos afirmaram que a alimentação é complicada devido às diferenças culturais. O prato típico brasileiro, por exemplo, é à base de arroz e feijão, que é servido quase todos os dias. Contudo, em seus países, os estudantes comem mais à base de peixe, com muitas verduras e não têm pratos padronizados diariamente. “No meu país (Cabo Verde), procuramos variar a alimentação”, disse Ivan.

Todos afirmaram sentir falta da terra natal. As datas comemorativas e a rotina diária são lembranças recorrentes, ou seja, “sente-se saudade daquilo que é mais simples”, concluiu Vanina. Por outro lado, “a distância da família e dos amigos de infância faz com que aprendamos a nos virar sozinhos. Acabamos por nos tornar independentes e, de certa forma, crescemos como ser humano”, disse Doris.

Assista ao vídeo da entrevista:

Algumas particularidades da língua

Embora tenham passado por dificuldades, os alunos disseram que também já viveram histórias engraçadas, muitas ocorridas devido às variações do português. Palavras que no país de origem tem um significado, no Brasil podem ter um sentido bastante diferente.

Ivan contou que, certa vez, um colega recém-chegado de Cabo Verde foi ao Restaurante Universitário (RU). Chegando lá, assustou-se com o tamanho da fila e repetia em alta voz que a “bicha” (fila) estava muito grande. Quando percebeu o que estava dizendo, ficou constrangido. “Falar que a bicha está muito grande pega mal aqui”, disse sorrindo.

Vanina declarou ter ficado quase um ano sem comer misto-quente porque não sabia como pedi-lo nas cantinas. “Em meu país, chamamos o misto-quente de tosta”, afirmou. E aponta outros embaraços: “outro dia, fui à papelaria e pedi à atendente um negócio que une dois papéis. Ela me trouxe uma cola. Eu disse que não era aquilo, que era de metal. Ela veio com um clipe. Então, comecei a movimentar as mãos imitando um ‘agrafador’. Quando estava quase desistindo, ao sair da papelaria, vi o bendito ‘agrafador’ e mostrei a ela. É isso aqui! O que os brasileiros conhecem como grampeador, em Cabo Verde, chamamos de ‘agrafador’. Se eu não tivesse visto o objeto, iria ficar horas e horas lá na papelaria”, contou.

Medo de vir para o Brasil

Em Cabo Verde, conforme Ivan, uma das emissoras de televisão de maior audiência é a Record. Ele fala que a população assiste muito ao programa Cidade Alerta e nele se noticia tantos casos de violência que seus pais e parentes chegaram a pedir que ele não viesse estudar no Brasil. “Existe até uma piada muito comum em Cabo Verde. A mãe chega para o filho e diz: ‘vá para o Brasil, mas não vá para essa cidade alerta‘. A mãe pensava que ‘Cidade Alerta’ era realmente uma cidade”, lembrou-se Vanina sorrindo.

Aline de Oliveira, estudante de comunicação social, disse que, em relação aos seus colegas, a vinda para o Brasil foi mais tranqüila porque ela possuía duas irmãs que já estudavam aqui e conheciam a realidade do país. Mas o seu irmão desistiu de vir para cá após ter assistido a algumas notícias veiculadas pelo Cidade Alerta. “Ele resolveu estudar em Portugal”, declarou.

Doris ouviu muitas pessoas dizerem que havia muitos casos de Aids no Brasil, e isso a deixou assustada. Diziam até que havia uma espécie de agulha que contaminava qualquer indivíduo. “Eu sei que isso é ilógico, mas, no avião, antes de sentar, eu apalpei primeiramente a poltrona para observar se não havia nenhuma agulha. Só assim não correria o risco de ficar contaminada. Hoje, estou bem mais tranqüila em relação a esses boatos”, declarou.

Programa Estudante Convênio de Graduação (PEC-G)

Todos os entrevistados estudam na Ufes por meio do Programa Estudante-Convênio de Graduação (PEC-G). Criado na década de 20, o PEC-G é ofertado a alunos de países em desenvolvimento com os quais o Brasil mantém acordos de cooperação sejam culturais, educacionais ou tecnológicos. O programa permite que alunos dessas nações cursem gratuitamente a graduação nas universidades conveniadas do país.

Anualmente, as universidades brasileiras fazem um levantamento das vagas disponíveis para o programa e informam ao Ministério da Educação (MEC) — não são aceitas vagas para cursos noturnos e para os que ainda não foram reconhecidos. A partir daí, o MEC encaminha a quantidade de vagas disponíveis às embaixadas brasileiras dos países conveniados. As embaixadas, então, recebem as inscrições dos candidatos e o MEC se encarrega de selecionar os alunos, que devem possuir condições financeiras de se manter no país.

Hoje, 42 estrangeiros estudam na Ufes pelo PEC-G. De acordo com o diretor do Departamento de Apoio Acadêmico ao Estudante (DAAE), Mário Cláudio Simões, a maioria é proveniente de países africanos de língua portuguesa.

Acompanhamento dado pela Ufes não é suficiente

O professor Mário Cláudio disse que atualmente existe uma recepção geral logo na chegada desses estudantes à universidade. Citou igualmente que a Secretaria de Assuntos Comunitários (SAC) fornece um acompanhamento psicológico, embora não feito com muita freqüência. O professor admite que essas ações ainda não são suficientes: “no semestre passado, solicitamos à SAC que as reuniões ocorram mais vezes. Esse acompanhamento cultural é muito importante para a melhor adaptação dos estrangeiros”, enfatizou.

Ivan contou que alguns amigos chegaram a ficar 15 dias comendo pão e bebendo água ou suco devido à dificuldade de se adaptarem à comida brasileira. Então, participaram das reuniões junto à SAC para tentar minimizar o desconforto da situação.

Planos para o futuro

Os universitários pretendem voltar para seus países e Doris explica porquê: “mesmo sendo um país de pessoas hospitaleiras, sente-se falta da família, dos hábitos e é difícil abrir mão disso”. No caso de Ivan, ele disse que volta para Cabo Verde, mas só depois de cursar o mestrado no Brasil. “A minha profissão no Brasil é muito concorrida. No meu país, acho que consigo emprego mais rápido porque falta mão-de-obra qualificada na área de arquitetura”, disse.

A UFES e a nova realidade da reserva de vagas

Por: Helbert Paulino e Jirlan Biazatti

helbertpaulino@yahoo.com.br

jibazatti@yahoo.com.br

“Bom dia! Gostaríamos de fazer algumas perguntas em relação ao sistema de reservas de vagas no vestibular”. Dessa maneira esses dois repórteres tentavam abordar os alunos que fizeram parte da primeira leva de reservistas da Universidade Federal do Espírito Santo. Olhos arregalados, indisposição, receio e insegurança em falar. Uma nítida sensação de desconforto quanto ao tema estampava-se na face dos universitários. “Meu nome vai aparecer?”, “vou ter que tirar foto?”, foram alguns dos questionamentos feitos. Mas depois o gelo foi sendo quebrado, e alguns alunos concordaram em conversar sobre o assunto.

Caloura do curso de Direto da Ufes, Letícia Silva Amaral, 17 anos, é somente um dos exemplos de vários alunos que percorreram longos caminhos em busca de uma vaga na Universidade. Natural de Ponto Belo, município localizado no extremo norte do Espírito Santo, a exatos 357 km de Vitória, Letícia é uma dos 794 novos estudantes que entraram na Ufes através do sistema de reserva de vagas.

O primeiro vestibular com reserva de vagas da Ufes, realizado no fim do ano passado, permitiu que vários alunos de escolas públicas pudessem enfim realizar o sonho de entrar em uma instituição federal de ensino superior. Os primeiros alunos reservistas iniciaram sua vida acadêmica em março deste ano. De acordo com a secretária de inclusão Social da Ufes, 794 alunos entraram pelo sistema de reserva, e outros 300, que possuíam o perfil, entraram pelo sistema universal de vagas. No ato da matrícula, todos os aprovados por esse sistema tiveram que comprovar, por meio de documentação, os perfis dentro das normas do processo seletivo.

Letícia, que sempre estudou em escolas públicas, contou que foi aprovada no seu primeiro vestibular. “Direito foi o curso que sempre quis fazer. Se não houvesse o sistema de reserva de vagas continuaria tentando até ser aprovada”, disse.

Sérgio Emerson, 17 anos, calouro do curso de Engenharia Civil, contou uma história semelhante. Linharense, o estudante conta que passar no seu primeiro vestibular foi uma grande alegria para ele e sua família, “mesmo sendo reservista”.

Arthur Falcão, aluno do 1º período do curso de Administração, acha que o sistema de reservas é uma ótima oportunidade para democratizar o acesso ao ensino superior público. “Seria injusto competir com outros alunos, em condições de desigualdade no aprendizado”, disse.

E o aluno?

Aí que entra o papel da Secretaria de Inclusão Social, criada em março deste ano. O titular da Secretaria, professor Antônio Carlos Moraes, promete que órgão terá a sensibilidade social para permitir o acesso e permanência do aluno ao curso superior. “A Secretaria de Inclusão Social inicia suas atividades com o objetivo de organizar o processo de inclusão social de todos os alunos da instituição de forma permanente”, garantiu o secretário.

A Secretaria de Inclusão Social informou que o Governo Federal fornecerá uma quantia de R$ 130 milhões, a ser repartida, para todas as universidades que adotaram o sistema de inclusão social, seja por meio de cotas e/ou reserva de vagas, e que a verba que cada universidade vai receber será destinada a investimentos em alimentação, transporte, moradia estudantil, assistência de saúde, e esporte e lazer.

Antônio Carlos apresentou um documento expedido pelo Ministério da Educação, MEC, que libera a quantia de R$ 1.421.000,00 a Ufes para apoio nas despesas de custo dos alunos aprovados pelo sistema de reserva de vagas.

Mas os estudantes, que deveriam ser beneficiados com o repasse, desconhecem essa informação. Custear livros nos valores de R$ 89,00, R$ 250,00 e até R$ 500,00 adotados por professores de alguns cursos, não é fácil para quem teve que comprovar renda de até sete salários mínimos para fazer parte da comunidade pensante. Não obstante, muitos dos livros solicitados não são parte do acervo da Biblioteca Central da UFES.

Tudo isso parece perfeito: pessoas que sequer tinham perspectivas de freqüentar um estabelecimento público de ensino superior, agora agarram “com unhas e dentes” a oportunidade, graças às reservas. Cena perfeita que vai se dissolvendo pouco a pouco, quando as dificuldades, como custos dos cursos, altos índices de reprovação e evasão, incompatibilidade de horários e outros entraves durante a vida acadêmica, vêm à tona.

De acordo com alguns universitários, que pediram para não ter nomes e cursos divulgados, os professores alegam que a aquisição não é obrigatória, contudo, a biblioteca não tem os livros. Para conseguir acompanhar, são obrigados a pagar altas somas em cópias por semana. Uma média que pode variar de R$ 5,00 à R$ 15,00 dependendo do curso.

Discriminação.

Cléber Carminati, coordenador do programa Conexões de Saberes destaca que a pauta recebida pelo professor não separa quem é reservista de quem não é, mas que isso não impedirá o preconceito dentro das salas de aula.

“Os professores de determinados cursos não estão acostumados com essa realidade da reserva de vagas. Estão acostumados com um perfil de alunos quem têm boas condições econômicas, que podem arcar com os gastos enormes com materiais. O preconceito se dará mais no âmbito econômico, como em casos de professores que só permitem que o aluno participe de aula se tiver determinado livro ou material didático.”

Antônio Carlos afirmou que a Secretaria de Inclusão Social tem dois caminhos contra o preconceito aos alunos populares:

“Primeiro é a advertência. Vamos punir quem praticar alguma discriminação contra qualquer tipo de aluno. Nesses casos a Ouvidoria será acionada. Outro passo é manter o diálogo aberto e implantar um caminho didático, como seminários de avaliação ética e institucional, que ajude no processo de adaptação do sistema de reservas.”

Apesar de às vezes ser fácil saber quem ingressou pelo sistema de reserva, numa clara demonstração de que a divulgação das notas em si já agrega um caráter discriminatório em relação aos alunos aprovados nesse sistema, muitos discursam em outra linha de pensamento, e afirmam que se há discriminação ou preconceito, eles não foram manifestados ainda.

Arte marginal na Ufes

Sérgio Rodrigo Ferreira

sergiorodrigo123@click21.com.br

Tâmara Freire

tamarafc@gmail.com

Vìdeo sobre a arte produzida pelos alunos nos espaços da universidade.

Assistencialismo ou transformação da realidade?

Professores e especialistas debatem os conceitos e rumos da Extensão na Ufes. E destacam a necessidade de superar o seu tradicional caráter assistencialista.

Glacieri Carraretto
glacarraretto@yahoo.com.br
Marcos Alves
mada.marcos@gmail.com
Natalia Gadiolli
natigadiolli@gmail.com

Por definição, a Extensão é um dos três pilares da universidade, junto com o Ensino e a Pesquisa. É a mediação entre sociedade e universidade, que tem a obrigação de transpor seus muros e levar à primeira o conhecimento, os serviços e os benefícios que dela se originam, dando uma resposta de seu papel social.

De acordo com o Fórum Nacional de Pró-Reitores de Extensão das Universidades Públicas de 2001, a Extensão é um processo educativo, cultural e científico que articula o Ensino e a Pesquisa de forma indissociável. No entanto, na Ufes, a Extensão enfrenta alguns problemas, desde a associação deste pilar ao assistencialismo até a divulgação mal realizada, que impede que alunos tenham conhecimento do assunto.

Para o professor do Departamento de Morfologia da Ufes e responsável pelo projeto Corpo Humano, Athelson Stefanon Bittencourt, a Extensão tem o potencial de fazer com que os produtos gerados dentro da universidade não fiquem restritos aos limites físicos da instituição ou beneficiem exclusivamente aqueles que nela estudam ou trabalham, mas alerta: “Na maioria das vezes isso não se cumpre, a meu ver, por falta de objetivos predeterminados, planejamento e integração de ações do Ensino, da Extensão e da Pesquisa”.

Assistencialismo
Seja pelo caráter das ações que realiza ou pela concentração de atividades em determinadas áreas de atuação, a Extensão é, em alguns casos, associada pejorativamente ao termo assistencialismo. A discussão sobre o assunto é polêmica e as opiniões, diversas.

O professor do curso de Comunicação da Ufes e responsável pelo projeto Conexões de Saberes, Cleber Carminatti lembra que o Ensino, a Pesquisa e a Extensão nunca tiveram um tratamento homogêneo: “A universidade sempre se concentrou muito na graduação. A partir dos anos 90, com as políticas de desenvolvimento da pesquisa e da necessidade de capacitar professores, a Pesquisa ganha uma dimensão mais significativa nas universidades”.

Já a extensão, para Carminatti, se constituiu muito no que se chama de Extensão assistencialista, que se vê em muitas ações dos cursos de medicina ou odontologia, por exemplo. “Ela se firmou muito no campo da saúde e sempre teve pouquíssima verba”, explica.

O professor destaca ainda que, nesse universo, se criou uma Extensão muito paternalista e assistencialista, com atividades que muitas vezes têm o caráter de simples prestações de serviços para a comunidade, quando deveria também problematizar, gerar reflexão, intervir efetivamente e despertar uma certa autonomia nos assistidos.

José Aparecido Cirillo, atual Pró-reitor de Extensão da Ufes, reconhece que a matriz da ação de Extensão originalmente surge no atendimento de cunho mais assistencialista, um cunho de menos transformação da realidade. No entanto, para o Pró-reitor, essas ações também são importantes e têm o seu papel. “Existem coisas emergenciais que precisam ser tratadas, e alguém tem que ir lá e fazer. Além disso, automaticamente, essa ação tem uma influência na formação de quem a pratica, mesmo que seja a de fazer com que o sujeito perceba qual é a realidade nua e crua deste país. Isso vai afetar diretamente a formação desta pessoa”, argumenta.

Pelo fato de tratar da própria concepção de mundo da pessoa que pratica a ação, diz o Pró-reitor, a dinâmica da Extensão já deixa de ser propriamente assistencialista. Cirillo, entretanto, lembra: “A ação de uma Pró-Reitoria de Extensão de uma universidade tem de ir para muito além disso. Existe a importância desse trabalho, porque algumas atividades assistenciais têm de ser feitas, e a universidade não pode se negar a esse papel. Mas, não se pode concentrar só nisso e contar que quem pratica a ação vai encontrar sempre um estímulo que faça com que ele promova alguma alteração da realidade”.

Infográfico mostra a atuação da PROEX no ES

Concentração de ações

Uma das características que se nota nas estatísticas sobre a Extensão na Ufes (confira os infográficos) é a concentração de ações em determinadas áreas ou mesmo centros. Das 378 ações registradas no ano de 2007, 123 eram da área de Educação e 118, da Saúde. No mesmo ano, Trabalho contou com apenas 6 registros.

A Extensão de acordo com as oito áreas temáticas.

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Diante de tal fato, o pró-reitor Aparecido José Cirilo argumenta que essa predominância na Saúde se explica, em parte, por uma tradição desta universidade: “Boa parte dos pró-reitores de extensão foram da área de saúde, então há uma certa relevância nesta concentração. Isso, claro, sem discutir o mérito da área”.

A disparidade também é vista na distribuição por centros. Enquanto o CCHN tem registradas 73 ações, no CT registram-se apenas 13. De acordo com o Professor Roberto Garcia Simões, especialista em políticas públicas, isso também é reflexo da receptividade da Extensão em determinados cursos. “Um curso voltado para a área social e que tem uma interação maior com a sociedade está mais ‘aberto’ às atividades de Extensão, e o mesmo vale para os Centros”, explica.

Tipos e números de ações extensionistas por centros.

Divulgação das atividades extensionistas

Segundo o próprio Pró-reitor de Extensão, Aparecido José Cirillo, outro problema enfrentado hoje pela Extensão é a sua má divulgação. Isso, informa o Pró-reitor, impede que muitos alunos tenham conhecimento do que é realmente a Extensão e qual o seu papel.

Cirillo informa que a PROEX tem planos de lançar um manual sobre a Extensão para ser distribuído entre a comunidade acadêmica e os freqüentadores da universidade, além de disponibilizá-lo na internet. O manual deverá apresentar de forma simples a estrutura da Proex, as ações que podem ser feitas na Extensão e quais os procedimentos a serem seguidos pelos interessados em participar.

Para o professor Roberto Garcia Simões, “a falta de conhecimento dos alunos em relação à Extensão, é consequência da falta de aproximação entre a instituição e os alunos”. O especialista em políticas públicas aponta que para evitar que casos como o do estudante citado acima se repita, é preciso combinar três coisas: a divulgação da Extensão, o estímulo aos alunos e o esclarecimento acerca de qual é o papel de cada um dos elementos que compõe o chamado tripé sustentador da universidade (o Ensino, a Pesquisa e a Extensão).

Como se vê, a Extensão na Ufes tem uma série de desafios a serem trabalhados, e a maneira como serão encarados esses desafios é que vai determinar o cumprimento ou não de seu verdadeiro papel. O que há de certeza neste momento é que, como frisado pelo professor Athelson Stefanon Bittencourt, “a universidade, através da Extensão, tem um papel social incalculável, pois ela é a principal geradora de conhecimentos, tecnologias e inovações que podem melhorar a qualidade de vida das pessoas”.

Planejamento estratégico é principal projeto da nova gestão

Como captar recursos externos e como definir diretrizes básicas para as tomadas de decisão são as principais ações do planejamento que Cristina Engel, nova diretora do Centro de Artes, e Fábio Malini, vice-diretor, pretendem fazer.

Por Lívia Cunha
liviacfc@gmail.com

Universo Ufes: Quem é a professora Cristina, candidata a diretoria do Centro de Artes da Ufes?

Cristina Engel: Bom, eu acho que a primeiro coisa é que a professora Cristina vai ser sempre a Cris, não importa se ela é coordenadora de projeto, se ela é diretora de centro, se ela é professora. Eu me orgulho muito de ser a Cris. Essa Cris é paulista que capixabou, capixabou bonito. Eu morei em vários lugares, morei no Rio Grande do Sul, morei em Brasília também. Minha formação é tecnológica, não é centro de artes. Eu sou arquiteta formada em centro tecnológico. A vinda pra cá foi em busca de uma melhor qualidade de vida e melhores espaços pra poder produzir uma série de coisas. E eu acho que essa vinda para o centro de artes deu uma temperada no meu lado tecnológico. Eu aprendi muito no Centro de Artes, aprendi inclusive uma forma diferente do pensar. Eu estou aqui desde 94. Tenho mestrado e doutorado na USP e sou apaixonada por desafios. Acho que é isso.

UU: Você já tem alguma experiência política dentro da área acadêmica ou essa seria a sua primeira experiência, a candidatura à diretoria do Centro de Artes?

Eu não sei até que ponto é uma experiência política – não deixa de ser também. Mas eu fui coordenadora de curso, durante algum tempo, que já deu pra começar a conhecer quais são esses meandros do lado administrativo. E eu sou coordenadora de projetos há muito tempo. Nessa coordenação de projetos, inclusive a maior parte deles de âmbito nacional e alguns até internacional, você acaba aprendendo algumas coisas. Agora o lado mais interessante disso tudo é o fato do pesquisador ser por natureza um inquieto; se ele não tiver uma inquietude ele não serve para ser pesquisador. Essa inquietude faz com que a gente sempre queira aprender. Então eu acho que dentro da direção vão ser novos rumos, novas trajetórias e que certamente eu tenho muito para aprender. Eu sou jovem, eu aprendo (risos). Continue lendo

A Eleição 2008 para diretor do Centro de Artes

Um relato em 12 dias sobre o dia que quase ninguém viu: a eleição no Centro de Artes.

Por Lívia Cunha
liviacfc@gmail.com

Foi em um dia quente e ensolarado a terça-feira, 29 de abril, que o futuro da diretoria do Centro de Artes da Ufes foi decidido. Nesse dia aconteceu um dos processos mais importantes do Centro, a eleição para novo diretor e vice-diretor. Entretanto, como havia apenas uma chapa na disputa, não se conseguiu mobilizar muitos membros da comunidade acadêmica. A própria candidata a diretoria, a professora de Arquitetura e Urbanismo Cristina Engel, reconheceu dias antes do dia de votação que “se tivesse tido uma outra chapa, seria mais rico o processo”.

O fato é que, mesmo com o aparente desconhecimento de grande parte dos estudantes, para Rosane Zanotti, professora de Comunicação Social e membro da Comissão Eleitoral, “a eleição foi positiva. O percentual de comparecimento foi o esperado”. Marco Romanelli, professor da Arquitetura e também membro da Comissão Eleitoral, disse que aproximadamente 50% dos professores votaram, quase 100% dos técnicos administrativos e 5% dos estudantes. “Só o comparecimento de estudantes que ficou abaixo do esperado, que era de 10%”, explicou ele.

De tal forma, Cristina Engel e seu vice, o professor e chefe de departamento do curso de Comunicação Social Fábio Malini, venceram com mais de 80% dos votos válidos.

Pouco debate e apatia

Mas nem todos festejaram. O professor André Abe da Arquitetura não considera essa eleição tão positiva assim. O fato de ter sido uma disputa (ou a ausência dela) de chapa única, para ele, “é reflexo da apatia. Essa falta de interesse [de não ter outros candidatos] é reflexo da apatia da universidade, é uma omissão consciente”. O aluno do 7° período de Arquitetura e Urbanismo Henrique Guimarães reforça tal afirmativa do professor, ao questoionar: “cadê a campanha eleitoral?”. Isso porque ele disse desconhecer o andamento do processo e os candidatos. A chapa inscrita assumiu a falha nesse sentido, “nós estamos fazendo algumas reuniões e conversas, mas acho que quem reclama de não ter uma campanha forte tem razão”, declarou Cristina Engel.

Os meandros do processo eleitoral envolveram pouca divulgação (e a que existia se resumia a folhas A4 brancas com texto impresso em preto coladas discretamente pelos prédios do Centro). E os candidatos, há seis dias das eleições ainda não haviam circulado suas propostas de trabalho. “Nossos folderes atrasaram” explicou Cristina.

Gestão com planejamento, espera Cristina

Mesmo conturbada, a campanha eleitoral continuou. E na terça-feira 22 de abril, exatamente uma semana antes do dia da eleição, a professora Cristina Engel se reuniu com a reportagem do Universo Ufes no laboratório de vídeo da Comunicação para uma entrevista e explicou o projeto de governo da chapa [confira a entrevista na íntegra].

Um dos temas abordados foi o futuro prédio de laboratório de audiovisual e multimídia, o popularmente conhecido como Bob Esponja [confira matéria completa sobre o assunto]. Quando que aquele prédio vai sair?, perguntamos. Cristina Engel responde de forma evasiva: “quando se mexe com dinheiro público é preciso ter muita cautela. Às vezes as pessoas não entendem, o que podem achar que é uma morosidade do serviço público. O serviço público tem um cuidado muito grande com a forma que se gasta o dinheiro público. Esse cuidado significa às vezes uma “perda de tempo” em trâmites”.

Mas para ela, se tudo correr bem (leia-se, dentro do planejamento) o prédio deve ficar pronto, ou começar a ser utilizado – mesmo que não completamente finalizado -, no segundo semestre deste ano. E todos os cursos do Centro de Artes serão beneficiados, o que responde também ao questionamento de quatro alunos do 2° período de Música, Rafael Barbosa, Jocimar Costa, Arthur Travaglia e Nilson Bonfim, que reclamam da falta de estrutura do curso que não tem sequer um laboratório de gravação de áudio.

Cristina Engel ressaltou que busca fazer uma gestão baseado em um planejamento estratégico, ainda a ser realizado. “O planejamento é algo que independe da direção e dos rumos que a pessoa assuma. E esse planejamento cria as diretrizes do quem somos nós, o que estamos querendo e para onde estamos indo”.

Apesar do início conturbado, Cristina é otimista quanto ao futuro, “eu acho que a partir do ano que vem, de 2009, nós começaremos a ter grandes transformações no Centro de Artes”.

Depois de 30 anos, governo muda lei do estágio

Erica Vaz

No próximo dia 7 de dezembro, a Lei Nº 6.494 de 1977, que regulamenta as atividades de estágio para os estudantes do ensino médio e superior, completa 30 anos. Perto de se tornar balzaquiano, o governo federal corre contra o tempo para que até lá uma nova lei de estágio seja aprovada pelo congresso.

No último dia 6 de novembro, o Senado Federal aprovou o projeto de lei PL 473/03, que prevê, entre outras coisas, férias de 30 dias para estagiários e limita a carga horária. Agora o projeto segue para a análise da Câmara dos Deputados e, em seguida, para uma sanção presidencial, o que deve acontecer dentro do prazo estipulado pelo governo.

Segundo o Ministério Público do Trabalho, uma das entidades responsáveis pela elaboração da nova lei de estágio, o objetivo é diminuir a prática de estágios ilegais e a exploração da “mão-de-obra” barata dos estudantes dentro das corporações. Pela atual legislação, não há limite de carga horária, tampouco a obrigação por parte das empresas de remunerar o seu estagiário, conceder-lhe vale-transporte ou férias. O único direito concedido ao estudante é uma bolsa-seguro para caso de acidentes ou óbito.

Hoje cada Estado tem suas próprias normas para “regularizar” o estágio e cada universidade tem autonomia para fazer as restrições ou concessões que desejar. Com a nova Lei, que já está em plenário desde o ano passado, o governo espera unificar as práticas de estágio, tornado, inclusive, mais fácil o trabalho de fiscalização do Ministério do Trabalho.

As principais mudanças

A nova proposta para substituir a Lei Nº 6.494 garantirá mais benefícios e amparo jurídico aos estudantes. Pela nova lei, a empresa é obrigada a conceder vale-transporte e férias remuneradas para os seus estagiários. Ela ainda limita para seis horas diárias e 30 horas semanais o estágio dos estudantes de nível superior e profissional, e quatro horas diárias e 20 horas semanais para estudantes de nível médio e de educação especial.
Outra proposta da nova Lei de Estágios, e que causou um certo desconforto entre as empresas, é a que limita a quantidade de estagiários a 20% do quadro geral de funcionários da empresa. Originalmente, o limite para contratação valeria para os estudantes de todos os níveis. Mas após diversas reações negativas exposto pelas empresas, principalmente pela mídia, e as ameaças de diminuição drástica no número de ofertas estágios, o governo recuou e a limitação em 20% aos estágios deve acontecer somente com o ensino médio, poupando o ensino médio técnico e o superior.

Confira as principais mudanças proposta pela nova Lei de Estágios
Carga horária

A jornada máxima não poderá ser superior a 6h/dia e a 30h/semana. A exceção ficaria com estágios para cursos com semestres alternados de teoria e prática, como os técnicos, que poderão ter até 8h/dia e 40h/semana.

Provas
Durante o período de provas, a carga horária deverá ser reduzida à metade.

Férias
O estagiário com um ano ou mais de atividade na mesma empresa, deverá ter recesso de 30 dias. Quando houver bolsa-auxílio, o recesso será remunerado.

Multa
A empresa que tiver estagiários fora das regras sofrerá multa do Ministério do Trabalho e Emprego (entre R$ 240 e R$ 2.400 por trabalhador em situação irregular). A empresa que reincidir em irregularidades ficará impedida de receber estagiários por um período de dois anos.

Limites
Haverá limite para o número de estagiários do ensino médio. Em empresas com mais de dez empregados, até 20% poderão ser estagiários. Será reservado ainda 10% das vagas para estagiários deficientes em empresas com mais de dez estagiários.

Contratação
Os profissionais liberais de nível superior (com registro em conselhos regionais), como advogados, engenheiros e outros, também poderão contratar estagiários. Atualmente, só as empresas e escritórios podem contratar.

A um passo do mercado de trabalho

Além de ser uma fonte de renda, o Programa Adolescente Aprendiz mostra aos jovens o ambiente profissional 

Por Ana Celia Alvim e Kamila Rangel

Ter o próprio dinheiro, aos quatorze anos de idade. Desde cedo, poder colaborar com as despesas da família. Quem acha que esse tipo de pensamento não passa pela cabeça de um adolescente se engana. Meninos e meninas, com idades entre 14 e 18 anos, já entram no mercado de trabalho e vislumbram, diariamente, um futuro profissional. Assim é o programa Adolescente Aprendiz, que, ao mesmo tempo que possibilita o conhecimento de uma profissão, representa uma chance de emprego para muitos adolescentes.

Procura por trabalho

A procura por uma oportunidade no programa é intensa. No Espírito Santo, há 1,2 mil adolescentes atuando dentro de cerca de 450 diferentes empresas, contabilizando apenas os que são encaminhados pelo Centro de Integração Empresa Escola (CIEE). Além dos que estão ativos, aproximadamente mil jovens esperam por uma chance. A absorção pelo mercado é muito menor que a busca dos jovens por uma oportunidade.

De acordo com a gerente do departamento de Programas Sociais do CIEE, Juliana Costa Denarde, a iniciativa de procurar pelo programa ocorre por parte dos pais e dos próprios adolescentes. Os motivos que os levam a buscar a oportunidade são variados. Por parte dos responsáveis, estão a possibilidade de aumentar a renda familiar e a preocupação em ocupar o tempo ocioso dos adolescentes, como afirma Juliana: “os pais sentem necessidade de tirar o filho da rua”. Os jovens se apegam à vontade de conhecer uma profissão e ao fato de receberem remuneração.

O CIEE do Espírito Santo estabelece como critérios para a contratação dos adolescentes a renda per capita familiar de um salário mínimo, além de ser fator condicionante que eles estudem em escolas públicas.

Exploração

Há casos de exploração dos adolescentes por parte das empresas? Juliana Costa afirma que existem, sim, episódios em que as empresas burlam a lei, exigindo dos aprendizes trabalhos que não lhes competem ou expondo os menores a condições insalubres. Ela destacou, porém, que nunca teve grandes problemas, já que há fiscalização por parte da Delegacia Regional do Trabalho (DRT), que, diante de situações desse tipo, multa os empresários.

Legislação

O Estatuto da Criança e do Adolescente institui que, aos dezesseis anos de idade, qualquer jovem pode ser contratado para trabalhar. No ano 2000, O Governo Fernando Henrique Cardoso aprovou a lei do Menor Aprendiz, posta em prática em 2003, durante o primeiro mandato do presidente Lula. A lei considera o adolescente apto a trabalhar como aprendiz a partir dos quatorze anos. Como tal, o adolescente usufrui de todos os direitos de um trabalhador qualquer, mas sem vínculo empregatício.

Com exceção das micro e pequenas empresas, os empresários são obrigados por lei a terem de cinco a quinze por cento do quadro de pessoal destinados à contratação de adolescentes aprendizes. Isso amplia as chances dos menores e faz com que eles conheçam o funcionamento da empresa e se familiarizem com o dia a dia delas, a ponto de vislumbrarem a contratação, após o período de aprendizagem.

Conversa com adolescentes (Ouça Bate-papo com adolescentes aprendizes)

“Os adolescentes aprendizes são explorados”. Essa afirmação não passou de uma hipótese ou, pelo menos, não foi isso que ouvimos dos estudantes com quem conversamos. E, quando um jornalista não consegue comprovar o fato, a notícia costuma tomar outro rumo. Durante um bate-papo informal com alguns adolescentes aprendizes, pudemos perceber que o programa representa, para eles, uma oportunidade e um meio de elevar a auto-estima, já que eles se sentem úteis e valorizados como trabalhadores. Os adolescentes descartaram a possibilidade de exploração e enfatizaram que os próprios empresários têm consciência da multa que podem levar, caso não sigam as normas do programa.

Trabalhar e aprender parece uma fórmula mágica para os meninos e meninas que relataram as experiências deles, vividas dentro das empresas onde atuam. Além de poderem contar com o próprio dinheiro, eles afirmam que também se tornam exemplos nas salas de aula em que estudam.

Entre as conquistas que eles exibem, com brilho nos olhos, estão a aquisição de um computador, a oportunidade de fazer cursos de informática e a possibilidade de ajudar na renda familiar. E eles não se contentam com isso: querem estudar mais, para terem a oportunidade de continuar nas empresas como funcionários especializados.

Saiba mais sobre o programa

Os aprendizes são contratados para fazer exatamente o que o nome indica: eles entram nas empresas para aprender o máximo possível. Por lei, toda empresa deve ter 5% do seu quadro de funcionários destinados ao programa, além disso, devem seguir regras como não expor os menores a condições insalubres e não exigir que eles trabalhem por mais de quatro horas diárias.

Os adolescentes fazem um rodízio por várias áreas da empresa, para que haja possibilidade de eles aprenderem diversas funções.

O programa do CIEE pode ser de quatorze ou dezenove meses, sendo que os seis primeiros são para capacitação dos adolescentes, quando eles podem realizar cursos referentes às áreas em que irão atuar na empresa. Mesmo durante o período de capacitação, o aprendiz já é considerado trabalhador da empresa, com deveres e direitos. Se, por um lado, eles já começam a ganhar o próprio salário, por outro, cada falta já é descontada na folha de pagamento.

Falha

Uma falha que pode ser considerada no programa é o fato de os adolescentes serem aprendizes apenas uma vez. Com isso, se um aprendiz começa aos quatorze anos, quando estiver prestes a completar dezesseis, seu contrato termina. Ele pode ou não ser efetivado pela empresa.

Ao se levar em conta que o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) estipula que só a partir dos 16 o adolescente pode trabalhar, aqueles que saem do programa antes dessa idade não têm a chance de serem contratados pela empresa, e ficam, assim, à espera de um estágio.

Criminalidade feminina no Espírito Santo cresceu 28% em um ano

por Lygia Bellotti, Lyvia Justino e Tatiana Arruda 

 

Para tentar entender o contexto da violência no universo das mulheres que cometeram crimes, as repórteres Lyvia Justino, Lygia Bellotti e Tatiana Arruda foram ao Presídio Estadual Feminino, em Tucum, e conversaram com a diretora do presídio e com duas mulheres que estão cumprindo pena no local.

Situação atual

O Presídio Estadual Feminino, em Tucum, Cariacica, é o maior presídio feminino do Espírito Santo, com capacidade para 175 presas, mas atualmente abriga 424 detentas. Se comparado ao mesmo período de 2005, o número de detentas em Tucum praticamente dobrou. A rotatividade de mulheres que passam pelo presido também é grande. Por dia entram e saem em torno de dez mulheres.

Segundo a diretora do presídio, Maria Aparecida de Azevedo, cerca de 70% das presas cumpre pena por tráfico de drogas, e 82% delas têm algum envolvimento com outras pessoas que estão presas, como filhos e marido. Maria Aparecida destacou ainda que o maior motivo de envolvimento das mulheres com o crime é resultado da influência masculina. “Elas fazem parte da área periférica do tráfico, e são parceiras ou familiares de de traficantes”.

Projetos de ressocialização

Diversos projetos são desenvolvidos dentro da penitenciária para proporcionar possibilidades mais efetivas de ressocialização e de reintegração com a sociedade. O trabalho na produção de roupas, oferecida por uma fábrica do Estado para as presas, pode reduzir a pena em até um terço.

Outras atividades como festas para comemorar datas como Dia da Mulher, Dia das Crianças e Natal também são realizadas em Tucum. O objetivo, segundo Maria Aparecida, é promover interatividade e melhorar o relacionamento entre as mulheres.

Para Maria Aparecida, estas atividades ajudam a despertar a idéia de que existem possibilidades fora do crime. “Quando a sociedade se dispõe a vir até o presídio e se envolver com as detentas, ela vem trazendo uma visão desprovida de preconceito. E dão a elas oportunidade de ter consciência de que podem sair daqui diferentes, melhores”, ressaltou.

Condenada por assalto à mão armada, Débora Matos, 23 anos, acredita que os projetos de ressocialização desempenhados dentro do presídio ajudam a ocupar o tempo e a mente, além de promoverem a interação entre as detentas. “Participo de todas as atividades que são oferecidas aqui, faço ioga, jogo vôlei, vou às reuniões em grupo. E quando tem alguma festa, eu sempre me divirto, consigo esquecer por um instante que estou presa”. Debora afirmou também que as atividades favorecem a harmonia entre as internas.

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Os caminhos da ressocialização

por Lygia Bellotti, Lyvia Justino e Tatiana Arruda 

A ressocialização tem como objetivo a humanização da passagem do detento na instituição carcerária e está prevista em lei. As penas de prisão não devem ter como intuito o castigo, mas sim a orientação, para que os detentos possam ser integrados à sociedade de maneira efetiva, evitando a reincidência.  

Para entender um pouco mais da importância da ressocialização e como o Governo deve atuar para que essas práticas sejam efetivadas, o Universo Ufes conversou com a professora de Direito Penal, Nara Borgo.

 Confira a entrevista.