Planejamento estratégico é principal projeto da nova gestão

Como captar recursos externos e como definir diretrizes básicas para as tomadas de decisão são as principais ações do planejamento que Cristina Engel, nova diretora do Centro de Artes, e Fábio Malini, vice-diretor, pretendem fazer.

Por Lívia Cunha
liviacfc@gmail.com

Universo Ufes: Quem é a professora Cristina, candidata a diretoria do Centro de Artes da Ufes?

Cristina Engel: Bom, eu acho que a primeiro coisa é que a professora Cristina vai ser sempre a Cris, não importa se ela é coordenadora de projeto, se ela é diretora de centro, se ela é professora. Eu me orgulho muito de ser a Cris. Essa Cris é paulista que capixabou, capixabou bonito. Eu morei em vários lugares, morei no Rio Grande do Sul, morei em Brasília também. Minha formação é tecnológica, não é centro de artes. Eu sou arquiteta formada em centro tecnológico. A vinda pra cá foi em busca de uma melhor qualidade de vida e melhores espaços pra poder produzir uma série de coisas. E eu acho que essa vinda para o centro de artes deu uma temperada no meu lado tecnológico. Eu aprendi muito no Centro de Artes, aprendi inclusive uma forma diferente do pensar. Eu estou aqui desde 94. Tenho mestrado e doutorado na USP e sou apaixonada por desafios. Acho que é isso.

UU: Você já tem alguma experiência política dentro da área acadêmica ou essa seria a sua primeira experiência, a candidatura à diretoria do Centro de Artes?

Eu não sei até que ponto é uma experiência política – não deixa de ser também. Mas eu fui coordenadora de curso, durante algum tempo, que já deu pra começar a conhecer quais são esses meandros do lado administrativo. E eu sou coordenadora de projetos há muito tempo. Nessa coordenação de projetos, inclusive a maior parte deles de âmbito nacional e alguns até internacional, você acaba aprendendo algumas coisas. Agora o lado mais interessante disso tudo é o fato do pesquisador ser por natureza um inquieto; se ele não tiver uma inquietude ele não serve para ser pesquisador. Essa inquietude faz com que a gente sempre queira aprender. Então eu acho que dentro da direção vão ser novos rumos, novas trajetórias e que certamente eu tenho muito para aprender. Eu sou jovem, eu aprendo (risos).

UU: Você já participou de projetos, como você disse, já coordenou curso e o que levou você escolher se candidatar à diretoria do Centro?

Eu estava falando que me considero jovem, eu sempre brinco que eu tenho 30 e 16 anos. Eu não vou chegar nos quarenta nunca (risos). Então, nos meus 30 e 16 anos,

eu me especializei em projetos em lugares de difícil acesso. Eu trabalhei – e trabalho até hoje – muito com o Programa Antártico Brasileiro, com construções em lugares como ilhas oceânicas e parques nacionais. Tudo isso sempre representou um desafio, de entender a possibilidade ou não de construção nesses lugares. E aí você considera o lado econômico, o lado técnico mas você também considera o estratégico, o político e principalmente ambiental.

Eu já faço há 20 anos esse tipo de atividade. E, aos 30 e 16, eu não tenho a mesma vitalidade para as viagens – você precisa ter um vigor físico muito grande. Fora isso, eu tenho envolvimento com outras coisas aqui, como a graduação e, principalmente, com os cursos de mestrado. E eu comecei a perceber que era chegada a hora de colocar os meus meninos, que agora já são gente grande, à frente; tem uma série de pesquisadores que já está apto a assumir essas coisas. Então, é hora de eu sair dessa frente, deixar que os novos pesquisadores comecem a coordenar os seus próprios projetos e ao, mesmo tempo, surgiu o interesse pelo Centro de Artes. É um desafio. E é um desafio muito agradável do ponto de vista que tem uma série de coisas que já foram iniciadas. Então é mais uma questão gerencial do que qualquer outra coisa. Gerencial com os rumos que já são tomados a algum tempo. Eu também estou começando a sentir um pouco mais de necessidade de passar um pouco de tempo aqui, de verdadeiramente viver Vitória, de viver um pouco mais a minha família. Então achei que as coisas davam pra serem associadas.

UU: Nesse sentido, você poderia explicar pra gente como é que funciona a chapa para a diretoria do Centro de Artes. Você está como candidata para diretoria da chapa e o professor Fábio Malini [da Comunicação] pra vice-diretor. São só vocês que fazem parte da chapa ou tem mais gente? Como são divididas as funções nesse processo?

A candidatura é só pra diretor e vice-diretor. Mas aí precisamos entender como é que funciona a organização de um centro, qualquer um deles. Nesse centro, “poder” do diretor é muito limitado. Quem está do lado de fora acha que o diretor resolve tudo, mas na verdade não resolve, existe um Conselho. Esse Conselho é formado pelos chefes de departamentos, pelos coordenadores de curso, pelos representantes dos professores do Centro, pelos técnicos administrativos e pelos alunos. Então, na verdade, as decisões ficam nas mãos desse Conselho. O diretor nada mais é do que um maestro dessa coisa toda, ele vai tentar reger, vai tentar fazer com que essa orquestra fique o mais afinada possível. Mas não vai muito além disso não. E o vice tem um papel importante por ser um assessor do diretor. Eu brincava com o Cirillo [José Aparecido Cirillo, ex-diretor do Centro de Artes 2005-2008, quando Cristina foi vice-diretora] que eu era o grilo falante dele. Às vezes quando tem uma pessoa que permite um olhar externo é muito bom; quando você está indo por uma trajetória e que, de tão afundado no problema, você não consegue ver outras possibilidades, o vice tem esse papel de mostrar outras possibilidades, de ser o grilo falante, de ser aquele cara que vê as coisas por um outro enfoque. Pra dizer “você está no rumo certo” ou “olha, acho melhor dar uma corrigida aqui”. E o vice fundamentalmente fica no lugar do diretor quando ele se ausenta. Então é importante que esses dois cargos, o vice e o diretor, andem sempre muito unidos, porque o ideal é que a ausência do diretor não seja sentida, que ela seja tranqüila porque o vice está assumindo tudo junto. Acho que o Malini e eu fazemos uma dupla bem coerente (risos).

UU: Quais são os principais projetos que vocês têm para o Centro de Artes enquanto chapa que está concorrendo a eleição?

Vou citar o que eu considero o principal. Nós identificamos, durante a minha gestão como vice e depois quando eu tive que assumir interinamente a direção, a falta de um planejamento estratégico. Mas, o que é um planejamento estratégico? O planejamento estratégico é algo independe da direção – quer dizer, se eu for embora, se eu enfartar ou se acontecer qualquer tipo de problema – que pode ser seguido independente dos rumos que a pessoa assuma. É necessário o envolvimento de todos os setores da universidade dentro desse planejamento estratégico. Esse planejamento cria as diretrizes do “quem somos nós, o que estamos querendo e para onde estamos indo”. Por exemplo, eu sempre brinco em algumas reuniões que é difícil pra gente administrar a choradeira. Nós estamos em uma universidade que tem problemas de recursos enormes, a gente não tem recursos. Muitas vezes parece que é falta da vontade de fazer mas não, é porque você não tem de onde tirar. Nós temos uma série de planos, inclusive dentro do próprio planejamento estratégico devem entrar formas de arrecadação de recursos externos. Como fazer para nos tornarmos um pouco mais independente de Brasília e conseguir captar recursos fora. Eu coordeno o laboratório de planejamento e projetos desde 96. Eu tenho muito orgulho do laboratório, porque não tem nada dentro dele que tenha sido recurso interno, todos os equipamentos foram captações através de projetos, de editais, de trocas em que você desenvolve trabalhos e consegue equipamentos. Hoje são 28 pessoas dentro daquele laboratório. Todos estudantes (tanto graduandos quanto mestrandos) ou recém formados, a maior parte deles tem bolsa e todos têm equipamentos disponíveis. Eu não digo que seja possível fazer a mesma coisa com o centro inteiro mas eu acho que essa experiência de ter coordenado laboratório, de ter conseguido criar uma infra estrutura e uma respeitabilidade, é o que eu gostaria de trazer para o centro. Como captar recursos é uma das partes do planejamento estratégico, a outra parte é criar formas de decisão. Nós temos, por exemplo, um determinado curso que os professores estão completamente lotados de tanta carga horária, que eles não conseguem fazer pesquisa. Aí vem outro curso e diz “não, eu tô mais do que vocês”. E o outro fala assim “não, eu tenho direito a um professor porque não sei quem se aposentou”. Bem, como decidir? Eu não tenho nenhuma vocação pra “salomônica”, então como decidir essa coisa de quem tem mais direito? Criando modelos. Você tem que criar modelos de contar carga horária, de contar trabalho, de contar atividades versus número de pessoas, de tal forma que seja possível você estabelecer uma relação, que a maneira da gente decidir para onde vai esse professor, esse recurso seja através desses modelos. Mas, costurar esses modelos não é fácil, então isso também depende do envolvimento de muita gente, de você criar um modelo que seja aceitável por todos, né? A partir desse modelo estabelecido ou do planejamento estratégico já configurado, ele tem que ser flexível também porque o que é verdade hoje, pode não ser verdade amanhã. Então ele tem que ter uma flexibilidade que se adapte ao longo do tempo.

UU: Falando sobre infra estrutura física, isso remete a uma pergunta que os próprios estudantes sempre fazem, sobre a construção do prédio de laboratórios audiovisual do Centro de Artes, popularmente conhecido como Bob Esponja.

Vamos tirar o Esponja, agora a gente chama só de Bob.

UU: Então, tem uma data prevista de quando vai ficar pronto? Porque já existe uma novela em torno desse prédio. Desde antes do Cirillo entrar, já questionavam quando ele ser construído, quando ia ficar pronto, quando os cursos do Centro de Artes iam poder ter seus laboratórios. Como está essa questão?

O Bob se tornou um personagem simpático pra gente, né? No início ele era meio cruel, realmente ele teve alguns trâmites não muito legais. Mas ele está aí e o Bob não é só uma idéia, um ideal do Centro de Artes, ele é um ideal da universidade, então tem muita gente envolvida pra tornar o Bob realidade. E nisso nós contamos com o apoio da direção central da própria reitoria para buscar maneiras de tornar o Bob efetivamente um prédio que a gente se orgulhe. E como um prédio do centro de artes, ele vai abrigar várias atividades de vários cursos, praticamente todos os cursos terão atividades lá. Bom, o que a gente está fazendo? A primeira coisa é que hoje [22 de abril, dia da entrevista] a gente deve estar terminando uma planilha. A prefeitura universitária está nos ajudando muito a terminá-la, porque não adianta só falar “o Bob precisa ser terminado”, não adianta ficar só nessa coisa, alguém precisa chegar e falar “eu preciso de x pra terminar o Bob”. Tem uma parte que já foi feita, que é a compra de uma série de equipamentos, que tem até me gerado um monte de problemas porque tem um monte de ar-condicionados em uma sala lá, aí cada professor que entra lá vê aquele monte de ar-condicionados fala “mas eu preciso de ar-condicionado” e eu falo “não é seu, é do Bob” (risos). Então já foi comprado uma série de equipamentos para o Bob que estão só esperando o prédio ficar pronto. Não é tudo ainda que se precisa, mas já é uma parte. E nós estamos agora terminando uma planilha que é o fundamental pro Bob começar a funcionar. Por exemplo, nós consideramos que uma coisa fundamental é garantir a acessibilidade plena. Então o elevadorzinho ou a plataforma para o cadeirante é fundamental, porque tem uma escadaria lá de todo tamanho. Falando em escadaria, a escadaria tem alguns probleminhas relacionados a incêndios, então é fundamental que seja um prédio seguro e por isso nós temos algumas obras relacionadas a incêndios. E nós temos algumas coisas relacionadas a própria estética, na verdade não é só estética, é limpeza e manutenção, que são os rebocos, pinturas e também as coisas que são fundamentais como as janelas, as portas. Ou seja, nós estamos trabalhando dentro da realidade de “o que é necessário para abrir as portas do Bob mesmo que você não tenha todos os revestimentos acústicos ou mesmo que você não tenha todos os vidros que a gente gostaria que tivessem”. Essa planilha nós vamos terminar logo. Se ela ficar dentro do adequado, que dê pra gente terminar, fazer essas obras; eu tenho a esperança de que em meados do semestre que vem [2008/2] a gente já esteja com ele pronto. Quem sabe dentro ainda do próprio semestre a gente consiga ter umas aulinhas lá. Essa é a nossa meta e às vezes as pessoas não entendem o que podem achar que é uma morosidade do serviço público. O serviço público tem um cuidado muito grande com a forma que se gasta o dinheiro público. Esse cuidado significa às vezes uma “perda de tempo” em trâmites. A gente está fazendo tudo de uma forma bem – essa palavra está meio antiga mas é isso – transparente. Então você tem que botar um processo licitatório, as pessoas tem que concorrer a esse processo licitatório, aí um ganha e o outro não gostou, aí coloca um processo contra quem ganhou aí até que tudo isso esteja feito, demora. Mas nós estamos correndo.

UU: Todos os cursos do Centro de Artes serão beneficiados?

Todos.

Uma resposta

  1. […] Mesmo conturbada, a campanha eleitoral continuou. E na terça-feira 22 de abril, exatamente uma semana antes do dia da eleição, a professora Cristina Engel se reuniu com a reportagem do Universo Ufes no laboratório de vídeo da Comunicação para uma entrevista e explicou o projeto de governo da chapa [confira a entrevista na íntegra]. […]

Deixe um comentário